Uma luta dos prefeitos que já atravessou duas décadas de reivindicações em Brasília
Em 15/05/2017
A marcha dos cachorros. Assim ficou conhecida a primeira Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, realizada pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) entre os dias 18 e 20 de maio de 1998. O nome surgiu porque os quase 2,5 mil gestores municipais presentes à capital federal foram recebidos no Palácio do Planalto pela tropa de choque da Polícia Militar do Distrito Federal e integrantes do Exército com cachorros prontos para atacar, ao invés do presidente da República.
No entanto, apesar do confronto, a data simboliza um marco para o movimento municipalista. “Houve um divisor de águas em relação ao Executivo e ao Congresso Nacional”, destaca o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski. A primeira Marcha representou, assim, o início de grandes conquistas aos Municípios brasileiros. Em quase duas décadas de luta, as vitórias do movimento superam a marca de R$ 500 bilhões, valor que terá um aumento relevante se considerarmos as vitórias obtidas entre junho de 2016 até o momento.
Ao relembrar os avanços obtidos ao longo de 20 anos, por meio das Marchas que consagraram e reconheceram o movimento municipalista nacional, Ziulkoski destaca: “nada disso seria possível sem a união entre os prefeitos. Vamos continuar lutando pelo fortalecimento do municipalismo”, aponta. A Marcha também fez crescer a força do municipalismo no cenário internacional, e a CNM assumiu o protagonismo na representação política e na busca de oportunidades de cooperação e promoção econômica para os Municípios brasileiros.
Como surgiu
O ano de 1998 marcou o surgimento de um movimento capaz de unir prefeitos dos 5.568 Municípios brasileiros e dar voz aos prefeitos e beneficiar milhares de cidadãos. Até aquele momento, os Municípios tinham pouca força e, como consequência, enfrentavam um pacto federativo cada mais desigual.
A Marcha foi criada em Praia Grande, no litoral paulista. Surgiu a proposta de fazer uma mobilização com todos os prefeitos do Brasil, Ziulkoski explicou que a entidade vinha obtendo o reconhecimento devido à participação e aos posicionamentos tomados frente a temas importantes. O presidente da Confederação defendia que o debate chegasse a Brasília, no entanto, a ideia não obteve muito apoio.
Apesar disso, a proposta de realizar um debate mais forte na capital federal não foi deixada para trás. A articulação para tirar do papel a iniciativa se iniciou logo após o fim do evento. “De dentro da Kombi, indo para o aeroporto, conversei com alguns companheiros e eles me apoiaram. Vamos fazer a Marcha”, lembra Ziulkoski. De uma sala improvisada, em Brasília, Ziulkoski começou a fazer ligações e a articular a mobilização da Marcha. Como a CNM não tinha recursos, o líder municipalista, conseguiu reservar auditório Petrônio Portela, no Senado Federal.
Muitos prefeitos não queriam se vincular à CNM porque a entidade falava duramente contra o presidente da República, causando desconforto para alguns gestores, que dependiam dos repasses da União. Outros prefeitos, no entanto, apostaram na mobilização. Na segunda-feira, dia 18 de maio de 1998, Brasília recebeu uma quantidade nunca antes vista de gestores municipais e Ziulkoski se tornou “O gaúcho que mobilizou mais de 2 mil prefeitos”.
De policiais e cachorros a tapete vermelho
As vitórias, no entanto, não ficaram restritas a valores a mais destinados aos cofres municipais. Após não serem recebidos no Palácio do Planalto em 1998, o movimento municipalista ganhou força e a Marcha se consolidou como o maior evento político em número de autoridades do mundo. A cada ano, a participação de prefeitos, vereadores, secretários e outros municipalistas fortalece o movimento e transforma-se em melhores condições de vida ao cidadão.
Em 2003, pela primeira vez na história da Marcha, um presidente da República participou da mobilização, acompanhado de 14 ministros de Estados, governadores e parlamentares. Já em 2011, os gestores foram recebidos no Congresso Nacional, com tapete vermelho e banda, e o presidente da CNM foi homenageado com a medalha de honra da Câmara dos Deputados pelo presidente da Casa, deputado Marco Maia.
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Por José Euflávio Horácio
Fonte: CNM